Artigo
O livro inaugural
Por Paulo Rosa
Médico do SUS
Sociedade Científica Sigmund Freud [email protected]
O jovem velho amigo Luis Gustavo Ávila acaba de lançar seu primeiro livro, É apenas o começo, Ed. New Naipe, 2023. Está catalogado como de autoajuda, mas é bem mais. Gustavo trabalha com finanças, mas de forma inovadora, sendo hoje um financial advisor, um planejador financeiro, com um olho na empresa, outro, no processo pessoal.
O autor, que está por completar seus primeiros 30 anos por estes dias, mostra-se um educador ágil, cujo propósito é alta e justamente ambicioso: transformar vidas através de uma educação financeira. Vejo aí uma proposta perspicaz, contemporânea, ao tomar as gestões de organizar e melhorar a vida das pessoas através da educação - que mais próximo da luz do nosso Paulo Freire? - usando como recurso a compreensão e o uso real do dinheiro. Coincido com o autor quando escolhe esse universal humano, o dinheiro, como recurso educacional e quando propõe que esse complexo processo educativo se inicie ainda na escola.
As crianças, precocemente, percebem o significado do dinheiro como intermediário nas transações interpessoais, cujos significados vão bem além de mera moeda de troca. Rápido se dão conta que dinheiro se transforma em poder, e, mais adiante, que alcança conotações sexuais, no intercâmbio entre pessoas. Gustavo ressalta o quanto ainda é tabu tratar abertamente do tema tanto nas famílias, quanto além. Aí uma sintonia com Freud, que mostrou a tendência humana a mentir quando em assuntos sexuais e/ou financeiros.
A obra é audaciosa e prudente em seu sentido biográfico, revelando aspectos de vida, de relacionamentos, de amizades, fatos que humanizam o texto e possibilitam a penetração profunda em assuntos de ordem técnica. E sinaliza às claras a direção maior do livro: as pessoas, seu bem-estar, sua autonomia, seu crescimento, seu amadurecimento.
Mas, creio que o que mais apreciei nesta obra primeira é o que deixa entrever o título: apenas o começo. Gustavo, aos trinta, está no começo. Eu, aos oitenta, também. Provavelmente, das mais saudáveis - e prudentes - das atitudes humanas é jamais sairmos da posição de aprendiz. Nunca na vida sentir-se sabido ou ser metido a cancheiro, coisa execrada aqui no Pampa. Por mais que saibamos sobre algum tema, nossa ignorância sobre o mesmo será sempre infinitamente maior. Isto me lembrou o magnífico A Douta Ignorância, de Nicolau de Cusa, século 15, o ilustrado bispo de Cusa, Alemanha, onde enlaça esse infinito, que não conseguimos apreender, com a ideia de Deus, em versão apofática. Vai para Gustavo, que aprecia Santo Inácio de Loyola.
Para finalizar, aproximemo-nos da poesia, já que o autor usa o mundo financeiro de forma poética - vale dizer criativa -, trazendo o ceticismo potente de Nicanor Parra: “creemos ser país / y la verdad es que somos / apenas paisaje”. Ou seja, compreende-se com o poeta que precisamos, mais do que nunca, estar alertas para nossas verossímeis crenças.
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